Quando o presidente da França, Emmanuel Macron, falou sobre a França – e, por consequência, a União Europeia – não importar mais soja do Brasil, muito estava em jogo. A questão ambiental, que não deve ser ignorada e nem minimizada. O lobby agrário internacional, que tenta dificultar a vida do agronegócio brasileiro e faz parte desse “jogo”. A verdadeira capacidade da União Europeia de plantar a própria soja. E, por fim mas não menos importante, o significado político da ameaça.
Abordar o tema sem um olhar amplo não vai chegar a uma resposta completa. E, sem ela, não será possível adotar a melhor estratégia.
Só na Amazônia, o Brasil desmatou 9,5% a mais do que em 2019. O mesmo 2019 marcado pelo infame “Dia do Fogo“, quando madeireiros organizaram queimadas pelo WhatsApp. Esse viés de alta, ainda mais quando o ano de pandemia marcou uma redução global nos índices de desmatamento, não passa uma boa mensagem.
Os principais mercados internacionais têm na sustentabilidade um pilar econômico e social. Ninguém quer se associar a países que desmatam e não demonstram interesse na preservação ambiental.
A eficiência e a competitividade do agronegócio brasileiro possuem fama internacional. Em 2020, superamos os Estados Unidos para nos tornarmos o principal produtor de soja do mundo.
Quando Macron fala em boicote à soja brasileira, o discurso faz parte de um lobby internacional para impedir o avanço brasileiro nos principais mercados. Para ficar em um exemplo famoso: os Estados Unidos dão subsídios para o etanol de milho, protegendo os produtores locais. Isso torna extremamente difícil a entrada neste mercado do etanol brasileiro, feito da cana-de-açúcar.
É preciso dizer: menos de 12% da soja brasileira é produzida na Amazônia. Além da soja brasileira não ser, diretamente, responsável pelo desmatamento – que existe, como mostramos no começo deste texto -, ela possui a melhor eficiência por hectare, a maior riqueza em teor de proteína e deixa uma pegada ambiental menor.
Além disso, por mais que Macron e a União Europeia tentassem produzir a própria soja, as condições climáticas e os espaços disponíveis não seriam o suficiente para competir com a nossa capacidade produtiva. Embora, como as relações brasileiras com a China têm provado, não é necessário um boicote para causar estragos: basta comprar menos. Algo que a França e qualquer outro comprador do Brasil podem fazer.
A soja brasileira não é vilã desta história. Macron não pode fazer boicote, pois precisa suprir a própria demanda. A maioria esmagadora do nosso agronegócio produz de maneira mais eficiente e ecológica do que o resto do mundo.
Mas o cenário não é favorável. Qualquer um dos motivos citados neste artigo, se separado, não provocaria a fala de Macron sobre a soja brasileira. É pela existência simultânea de todos eles que ela existe e causa mal-estar.
Como diz o ditado, não basta ser honesto. Também é preciso parecer honesto. E a soja, por questões que não dizem respeito a ela, não parece.
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