Uma quase certeza de judicialização e resultados parciais mais apertados do que o esperado. As eleições dos Estados Unidos podem se arrastar por meses até que um vencedor, seja o republicano Donald Trump ou o democrata Joe Biden, possa oficialmente comemorar. Embora este seja um dos pleitos mais tensos das últimas décadas, não é novidade que a escolha de um presidente americano afeta mais do que seu próprio país. A forma como a maior economia do mundo age impacta mercados ao redor do globo.
O Brasil não é exceção. Tendo no agronegócio uma das principais relações com os Estados Unidos, os produtores brasileiros têm muito interesse em saber quem vai morar na Casa Branca pelos próximos quatro anos. Cada possível cenário representará diferentes desafios a serem superados.
Durante a crise do novo coronavírus – e já pensando nas urnas em novembro -, o atual presidente, Donald Trump, injetou um pacote de subsídios de 16 bilhões de dólares no setor agrícola. A medida é parte de uma extensa guerra comercial com o governo chinês. Um dos efeitos colaterais da medida, contudo, é a dificuldade de produtores de fora entrarem neste mercado.
Tal aquecimento do mercado interno americano abriria espaço para países como o Brasil aumentarem suas exportações para a China. Algo que já está acontecendo. Com a desvalorização do Real frente ao Dólar, as exportações são mais lucrativas do que nunca para o agronegócio nacional.
Com uma visão mais progressista em valores e liberal em economia, uma vitória de Joe Biden tende, rapidamente, a mudanças no campo e nas relações comerciais. O conflito com a China pode distensionar. Uma maior regulamentação interna, priorizando questões ambientais, pode tornar o mercado norte-americano novamente competitivo para exportadores como o Brasil.
Questões ambientais que também causam apreensão nos agricultores brasileiros. Já no primeiro debate presidencial, Biden sugeriu que o país pode sofrer “consequências econômicas significativas” se não conter os incêndios na Amazônia. O Brasil registrou recorde de queimadas em outubro.
Aliado político e torcedor declarado pela reeleição de Trump, o Presidente Jair Bolsonaro pode se ver isolado numa eventual administração democrata. Conter as ameaças ao meio ambiente é imperativo para manter o agronegócio competitivo no cenário internacional.
O que poderia significar um caminho simples – torcer pela vitória de Trump – se revela uma encruzilhada para os produtores brasileiros. Isso porque o mercado chinês, escolha natural em caso de retaliação americana, está ameaçado pelo alinhamento automático do governo brasileiro à administração Trump e à sua já citada guerra comercial com Pequim. Apesar do recorde de exportações no ano, desperta preocupação que os asiáticos estejam buscando reduzir sua dependência de grãos brasileiros, importando soja agora também da Tanzânia.
Seja qual for o vencedor nas urnas americanas, a vida do agronegócio brasileiro não será fácil. Os dois lados impõem desafios a serem superados. Seguir inovando, produzindo mais e melhor, é vital. E investir um pouquinho em diplomacia também.
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